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sexta-feira, 25 de julho de 2014

“The Changing Face of World Oil Markets”


Os últimos 10 anos marcaram uma mudança de paradigma em termos de produção mundial de petróleo, com um impacto significativo no consumo global, não se prevendo alterações de padrão para os próximos anos. As conclusões são de James D. Hamilton, da Universidade da Califórnia, San Diego, sustentadas em dados reais de produção e consumo das últimas décadas, estão disponíveis aqui e merecem, pela sua relevância, ser analisadas em pormenor.

Segundo Hamilton, desde 2005 assistimos a uma queda do consumo de petróleo nos países desenvolvidos, o qual se situava em 2012 em valores próximos dos de meados da década de 90. Pelo contrário, assistiu-se a uma aceleração do crescimento do consumo nos países emergentes, que representaram 55% do consumo mundial de petróleo em 2013. Embora o crescimento do consumo dos países emergentes fosse já projetado, o consumo mundial ao longo da última década foi ano após ano inferior ao estimado.

Para se ter uma noção do desvio ocorrido, a US Energy Information Agency (EIA) projetou em 2001 um consumo mundial de 118 milhões de barris/dia para 2020, o qual foi reduzindo ao longo da década até um valor de 92,5 milhões de barris/dia nas suas previsões de 2010. Trata-se de uma redução de 22% no consumo mundial de petróleo, a qual não é justificada por uma redução equivalente do crescimento do PIB mundial. De facto, assumindo uma elasticidade histórica de 0,7 entre PIB e consumo de petróleo (ou seja, a subida de 1,0% no PIB estar tipicamente relacionada com uma subida de 0,7% no consumo de crude), face a um crescimento do PIB mundial de 27,7% entre 2005 e 2013 seria previsível, a preços constantes, um aumento do consumo de crude de 19,4%. O valor real foi de 3,1%.

A razão para a quebra desta relação deveu-se, segundo Hamilton, à incapacidade da produção em acompanhar a procura, nomeadamente nos crudes convencionais, forçando o preço do crude a subir, desincentivando progressivamente o seu consumo e favorecendo soluções alternativas. Esta escassez de crude justifica também o agravamento do diferencial entre a sua cotação e a do gás natural (em especial nos EUA, devido à crescente produção de gás de xisto).

Hamilton faz também uma descrição das várias causas para a incapacidade da indústria mundial em acompanhar a procura, identificando nomeadamente motivos de ordem geopolítica, ressalvando no entanto que a principal causa parece ser de origem geológica e tecnológica e que só o fenómeno do shale oil nos EUA tem permitido mitigar os défices estruturais da indústria. Em jeito de conclusão, Hamilton prevê que o preço do crude se mantenha, de forma sustentada, acima dos $100/barril.

Trata-se de um estudo interessante e que deixa várias questões para análise futura.

Em primeiro lugar, sobre qual o real peso do óleo de xisto na produção futura, parecendo depender em parte do seu sucesso a capacidade de manter os níveis atuais de produção mundial de crude. Hamilton também o refere, alertando para as muitas dificuldades logísticas e administrativas que este tipo de produção não convencional acarreta em comparação com a exploração convencional ou offshore, visto estar sustentada num ritmo quase frenético de perfurações, com a produção a cair, em média, para 20% da inicial após 2 anos de produção. Caso não se confirme a euforia em torno desta nova fonte de hidrocarbonetos, é previsível um agravamento dos défices globais e uma nova escalada do preço do crude.

Em segundo, sobre a relação entre os custos de produção das várias alternativas existentes e os equilíbrios que se gerarão entre elas nos vários mercados energéticos (geográficos e setoriais). Tendencialmente, apesar do enorme peso que o crude continua a ter no perfil mundial de consumo energético, é expectável – apenas pela variação do custo – um aumento do incentivo ao investimento e produção de outras formas de energia, nomeadamente renováveis, não sendo porém de esquecer soluções menos românticas, como o carvão e o nuclear.

Em terceiro lugar, será também muito interessante analisar as alterações comportamentais resultantes deste aumento do custo da energia nos mercados em que as alternativas ao crude são praticamente nulas, como são os setores dos transportes e a indústria petroquímica, precursora de grande parte dos objetos de grande consumo. Mas isto ficará para outro artigo.

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